Faço uma prece:
Que eu não deixe de perceber que qualquer ato meu, ainda que indiretamente, acalenta uma criança e sua mãe. Há sempre alguns olhares para me lembrar disso pelos corredores. Que eu não deixe de vê-los.
São eles que vão me salvar quando as burocracias parecerem me sugar.
Sim. Há algo MUITO maior.
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Terça-feira
era uma mulher
e um ramo de ervas
próximo ao nariz.
senti o cheiro:
não era de chá nem de terra.
era cheiro de rugas,
de tempo suspenso
de fazer poético
em pleno meio-dia.
meu olhar interviu sem querê-lo
e eu fotografei o susto
a la manoel de barros.
e um ramo de ervas
próximo ao nariz.
senti o cheiro:
não era de chá nem de terra.
era cheiro de rugas,
de tempo suspenso
de fazer poético
em pleno meio-dia.
meu olhar interviu sem querê-lo
e eu fotografei o susto
a la manoel de barros.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Antony and the johnsons - One Dove
One dove
You’re the one I’ve been waiting for
Through the darkfall
The nightmares the lonely nights
I was born
A curling fox in a hole
Hiding from danger
Scared to be alone
One dove
To bring me some peace
In starlight you came from the other side
To offer me mercy
Mercy, mercy
One dove
I’m the one you’ve been waiting for
From your skin I am born again
I wasn’t born yesterday
You were old and hurt
I was longing to be free
I see things you were too tired
You were too scared to see
One dove
To bring me some peace
In starlight you came from the other side
To offer me mercy
Mercy, mercy
Eyes open
Shatter eyes
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Se te parecer distante,
Escassa de peito aberto,
Não convoque espinhos
Para dançar conosco.
- Não quero mais a fixação dos cortes.
Ao seu lado desaprendo ofícios,
Recuso chispantes faróis,
Sou alforriada do vale dos ventos.
Círculo dos infernos dantescos.
- Pés bailarinos transformam pesos.
Quando vierem artimanhas,
Descaradas sabotagens,
Relembrarei eloqüências
Em imagens.
- Só há céu em lilás degradê quando o sol não arde no rosto.
Acordo desejos sutis.
Cheiro da cidade,
Voz dos ancestrais,
Tempo largo de casas com quintal.
- Frondosos matos cobrem fronteiras.
Escassa de peito aberto,
Não convoque espinhos
Para dançar conosco.
- Não quero mais a fixação dos cortes.
Ao seu lado desaprendo ofícios,
Recuso chispantes faróis,
Sou alforriada do vale dos ventos.
Círculo dos infernos dantescos.
- Pés bailarinos transformam pesos.
Quando vierem artimanhas,
Descaradas sabotagens,
Relembrarei eloqüências
Em imagens.
- Só há céu em lilás degradê quando o sol não arde no rosto.
Acordo desejos sutis.
Cheiro da cidade,
Voz dos ancestrais,
Tempo largo de casas com quintal.
- Frondosos matos cobrem fronteiras.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Lista das pequenas (e pontuais) resistências
Intuir vida em cabelos molhados
Desdobrar joelhos
Cheirar manjericão
Refogar cebolas no azeite
Tatear meu colar de Murano.
Desdobrar joelhos
Cheirar manjericão
Refogar cebolas no azeite
Tatear meu colar de Murano.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Portinari
"Vim da terra vermelha e do cafezal.
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo"
Candido Portinari
As almas penadas, os brejos e as matas virgens
Acompanham-me como o espantalho,
Que é o meu auto-retrato.
Todas as coisas frágeis e pobres
Se parecem comigo"
Candido Portinari
terça-feira, 11 de maio de 2010
Pulsões
Espio a mim mesma, comprimida em sinais do não pertencimento, estrangeira dos caminhos alheios, como não poderia deixar de ser. A tensão muscular se intensifica. Ombros que pesam mostram mais do meu inferno do que eu gostaria de saber. Das minhas contradições quando a vaidade assola meu calcanhar. Ansiedade. Diminuo o ritmo da respiração, lembrando de segurar o leme... Técnicas comportamentais me incitando a traições psicanalíticas. Brecando meu pulsar mortífero – como se pudesse ser. O tronco não agüenta a rigidez e eu me debruço na mesa. Extraio a não-leveza da poesia, mas sem exageros. O caminhar é vagaroso quando silencio... Bastam de alardes, confissões de coitada, escritos superlativos. Se eu agüento ou deixo de agüentar, cabe a mim mesma. A mão estendida me ajuda no equilíbrio, mas não me sustenta o peso. Eu compartilho por querer, já não mais por desespero. Meus planos se esticam e se apresentam em recomeço, já não mais por cegas fugas... A adolescência se foi há alguns poucos anos. Com ela, o extravasar em cascatas e algumas esperanças também. A falta de norte sucumbiu: tenho direções - sorrio por ser plural. Abocanho meus objetivos. Fortaleço-me em vorazes leituras. E vislumbro ser essa a legítima saída: pulsão de vida.
quarta-feira, 24 de março de 2010
...

Encolho-me para caber em versos que não sou. Em críticas que, em última instância, compreendo não precisar. Encolho-me para o encaixe estético, travo a língua e arrisco meu passo em falso. Por qual motivo? Tocar as mãos daquela que é alcançada por pássaros de outras castas? Pregar asas no sumo escrito agarrado em minhas pernas, como filho inseguro? As mãos se estendem desconhecendo minha frágil respiração poética. Pouco relevei a fluidez da minha prosa. Ela precisa de coragem, mas há que ser sem esperanças - disse-me. Por qual motivo? A falta dele (e minha) é objeto espaçoso na sala de espera.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Espio um jardim
Cercas sem arames farpados. Um verde de mastigar com os olhos. Ponte que faz Poti tocar a mão de Iracema, fortemente. Sorrisos de estremecer o corpo. À sombra dos eucalipitos, enraizamos nossas juras de amor sob a testemunha da mãe-terra - molhada, cheirosa, fértil. Eu me rendo e dou de ombros às súplicas das tempestades sem abrigo. Você me quer livre e eu me permito sentir o gosto doce desse passo. Te quero, meu cheiro amadeirado, trazendo as boas novas daqueles campos onde o amor não se valida com as inflamações torpes, as nocivas labaredas, onde os ossos se fraturam nas esquivas - o amor não é desamor. Munido de tinta azul, nosso lar já se ergue na beira do ribeirão com grandeza de mar. Beijo tuas mãos.
Obs: Texto escrito em volúpia, sem censuras, como uma queda d'água que flui em rapidez, inspirado nas palavras de um jardim suspenso.
Obs: Texto escrito em volúpia, sem censuras, como uma queda d'água que flui em rapidez, inspirado nas palavras de um jardim suspenso.
domingo, 24 de janeiro de 2010
I
Quando queimei as pontes
O sagrado se espalhou como pólen
Transparente-lilás
- dulcíssimo exposto-mistério.
Penetrou as flores mais intocáveis
(tulipas entre os entulhos)
E as pequenas rachaduras
Nos cacos de vidro do muro
Altiva, eu nada quis reter.
Quando o lodo secou
(crosta na pele)
A fauna noturna sugou minha seiva,
Meus anticorpos.
Censurada, eu desaprendi a chorar.
Em cólera, perguntei:
Deus, por onde me espia
Para eu ultrapassar essa fresta?
O sagrado se espalhou como pólen
Transparente-lilás
- dulcíssimo exposto-mistério.
Penetrou as flores mais intocáveis
(tulipas entre os entulhos)
E as pequenas rachaduras
Nos cacos de vidro do muro
Altiva, eu nada quis reter.
Quando o lodo secou
(crosta na pele)
A fauna noturna sugou minha seiva,
Meus anticorpos.
Censurada, eu desaprendi a chorar.
Em cólera, perguntei:
Deus, por onde me espia
Para eu ultrapassar essa fresta?
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Carne viva
Lóri se sentia como se fosse um tigre perigoso com uma flexa cravada na carne, e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem lhe tiraria a dor. E então um homem, Ulisses, tivesse sentido que um tigre ferido não é perigoso. E aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, tivesse arrancado com cuidado a flecha fincada.
(Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. P. 121)
(Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. P. 121)
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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Processo-dor I
Em hiato,
afastam-se as palavras.
Eu oro em desespero:
Muros se partam
para o meu sumo sair,
escorrer cintilante
em grito inflamado.
Os senhores vigilantes de todo o movimento
caçoam da minha alteridade
enfraquecem o jorro,
essa potência de vida.
O olhar, no entanto,
persegue ousado
a composição que atinge a víscera.
Alimento minhas algas marinhas,
mas não consigo expelir.
afastam-se as palavras.
Eu oro em desespero:
Muros se partam
para o meu sumo sair,
escorrer cintilante
em grito inflamado.
Os senhores vigilantes de todo o movimento
caçoam da minha alteridade
enfraquecem o jorro,
essa potência de vida.
O olhar, no entanto,
persegue ousado
a composição que atinge a víscera.
Alimento minhas algas marinhas,
mas não consigo expelir.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
O coração comprime meu trinco.
A poesia encardida,
Impregnada das minhas fugas,
Acossa a saída como se fosse ver o mar.
Sendo que há tanto espelho
A me contar do que tanto sei.
(Cotidiano-caos,
Lamentável corte me atravessando impiedoso).
Acolho esse inferno de mim
Como uma sacramentada tristeza.
Eu não me abandono...
Maldigo o meu estar,
A minha espera desigual.
Mas não impeço o passo,
Impetuosa que sou.
A poesia encardida,
Impregnada das minhas fugas,
Acossa a saída como se fosse ver o mar.
Sendo que há tanto espelho
A me contar do que tanto sei.
(Cotidiano-caos,
Lamentável corte me atravessando impiedoso).
Acolho esse inferno de mim
Como uma sacramentada tristeza.
Eu não me abandono...
Maldigo o meu estar,
A minha espera desigual.
Mas não impeço o passo,
Impetuosa que sou.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Canção para dizer adeus

"Me and Joey started a fire in the road
Just to watch it glow
Me and you we did the same damn thing
We fell in love knowing the pain it would bring
Now all I do is sing sad songs with red eyes
Throw your arms around me
Let's keep this quiet
Hear our hearts in the distance like cannon fire
See our breath in the window, in the turning light"
Let's keep this quiet
Hear our hearts in the distance like cannon fire
See our breath in the window, in the turning light"
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sábado, 7 de novembro de 2009
Sincronicidade

A intuição me belisca: temos personas afins – da sombra, ainda estamos nos sabendo pouco. Lemos o mesmo livro no mesmo mês. Pulsamos pelos mesmos filmes. Somos afetados visceralmente pelas letras de um lugar onde nos encontramos bem antes da carne. Assim, tão íntimos e sabedores do nosso jorro. Sua anima carrega tanto de mim. É certeira. Pondero, mas sigo. Nossos acasos começam a se encontrar: inevitável não citar Kundera e a comparação disso com o encontro dos pássaros nos ombros de São Francisco de Assis. Um dia antes de sua chegada, percebo estar de frente a uma imagem dele enquanto te escrevo uma mensagem. Nesse meio tempo, uma fala minha te lembra nosso dueto preferido de filmes e você traz um deles na mochila, enquanto o outro se faz valer pela tamanha semelhança com o nosso dia – um roteiro inscrito em nós espontaneamente. Você vai embora e, na primeira vez que ligo a televisão, tenho a surpresa: está passando um dos filmes e na cena em que o casal tenta virar a noite acordado, deitado no chão com a cabeça encostada na outra. Sucessivas e estranhas coisas passam a se cruzar, repletas de significados, por estamos abertos e atentos. Por que Freud, se, nesse caso, Jung nos legitima tão romanticamente? Pondero, mas sigo.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Da morte. Odes mínimas
Durante o dia constrói
Seu muro de girassóis
(Sei que pretende disfarce
E fantasia)
Durante a noite,
Fria de águas
Molhada de rosas negras
Me espia.
Que queres, morte,
Vestida de flor e fonte?
- Olhar a vida.
(Hilda Hilst)
Seu muro de girassóis
(Sei que pretende disfarce
E fantasia)
Durante a noite,
Fria de águas
Molhada de rosas negras
Me espia.
Que queres, morte,
Vestida de flor e fonte?
- Olhar a vida.
(Hilda Hilst)
É preciso matar um dragão sempre que quero escrever por aqui. Às vezes o esforço não vale a pena tanto assim. Noutras, a vontade é tão imensurável que eu preparo minha munição e parto para o ataque. Se eu venço? Só sei no final do texto. Qual o prêmio? Nenhum, exceto alguns centímetros de alívio, porque catarse mesmo faz tempo que não vejo em forma de palavra. Saboto minha análise e meu desejo de escrever. Assim, meu sintoma escorre pela febre ou pela mão pesada daquele que põe limites no meu solto agir.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Gone
"You're taking steps that make you feel dizzy
Then you learn to like the way it feels.
You hurt yourself, you hurt your lover
Then you discover
What you thought was freedom is just greed."
(U2 - Gone)
Then you learn to like the way it feels.
You hurt yourself, you hurt your lover
Then you discover
What you thought was freedom is just greed."
(U2 - Gone)
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Eu podia escrever um livro de trezentas páginas sobre esses últimos três dias. Ou bem mais que isso, bem mais. E pela vida inteira eu vou lembrar. Comovida, modificada, transbordando sensações. As crianças e suas mãos apertando a minha com força, os corações cercados de fogo, a flor com nossos nomes dentro das pétalas - e os deles bem juntinhos -, o choro, o caos, os abraços que pedem socorro, o corpo amordaçado... tantos fragmentos ainda por juntar, uma escuta ainda amedrontada para oferecer e toda a vontade do mundo de acolher.
Que meus olhos não se fechem.
Que eu não só veja, mas também repare.
Que minha escuta seja como as águas calmas do mar pela manhã.
Ps. (para os que se preocuparam por não entender): O texto se refere mais a uma experiência que tive com crianças institucionalizadas, através de uma proposta da base de pesquisa da qual faço parte na faculdade.
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