quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Lugar
Parece não me dizer respeito.
Atravesso quase invisível
As densas camadas da escassa interação
Como se fosse para fora,
Como se fosse estranho.
Insistente, quando não indecisa,
Essa realidade arfa sobre mim
Com seus tentáculos atrozes.
Às vezes humilde,
Noutras desencorajada,
Permaneço em meu lugar:
Enumerando solidões.
(Isabella Maia)
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Carne viva
(Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. P. 121)
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Processo-dor I
afastam-se as palavras.
Eu oro em desespero:
Muros se partam
para o meu sumo sair,
escorrer cintilante
em grito inflamado.
Os senhores vigilantes de todo o movimento
caçoam da minha alteridade
enfraquecem o jorro,
essa potência de vida.
O olhar, no entanto,
persegue ousado
a composição que atinge a víscera.
Alimento minhas algas marinhas,
mas não consigo expelir.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Gone
Then you learn to like the way it feels.
You hurt yourself, you hurt your lover
Then you discover
What you thought was freedom is just greed."
(U2 - Gone)
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Que meus olhos não se fechem.
Que eu não só veja, mas também repare.
Que minha escuta seja como as águas calmas do mar pela manhã.
Ps. (para os que se preocuparam por não entender): O texto se refere mais a uma experiência que tive com crianças institucionalizadas, através de uma proposta da base de pesquisa da qual faço parte na faculdade.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Into the wild I
Levantando um copo vazio, pergunto silenciosamente:
Todos os meus destinos aceitação aquele que realmente sou
Para que eu possa respirar?
Círculos que crescem e engolem pessoas completamente
(...)
Uma mente cheia de perguntas, e um professor em minha alma
E por aí vai...
Não se aproxime ou terei que ir
Tal como a gravidade, são esses lugares que me puxam
Se alguma vez houve alguém para me manter em casa
Seria você...
Todos que encontro, em gaiolas que compraram,
Pensam sobre mim e minha vida errante,
Mas eu sou o que eles nunca pensaram.
Eu tenho a minha indignação, mas sou puro em todos os meus pensamentos
Eu estou vivo...
Vento em meus cabelos, sinto-me parte de todos os lugares
Sob o meu ser, há uma estrada que desapareceu
Tarde da noite, eu ouço as árvores
Elas estão cantando com os mortos no alto...
Deixe comigo que eu encontro um jeito de ser
Considere-me um satélite, sempre orbitando
Eu conhecia todas as regras, mas as regras não me conheciam
Com certeza...
(tradução da música "Guaranteed" de Eddie Vedder - trilha sorona do filme "Into the wild")
quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Clarice Lispector
quarta-feira, 8 de abril de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
clarice lispector
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Em tempo: o meu amor ainda caminha sobre frágeis trilhos de papel.
domingo, 21 de dezembro de 2008
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Das mudanças que saltam aos olhos ou mais um texto egocêntrico
D.: Você pode estar meio assustada, sem saber ainda que destino dar para tantas mudanças, mas você, no fundo, sabe exatamente quem você é e nunca soube tão bem.
M.: Não poderia ser diferente, você perdeu muito daquela visão romântica de cinco anos atrás. Estranho seria se continuasse a mesma, sempre.
Y.: Seu texto, diga-se de passagem, foi muito bem escrito – algo que não é novidade na sua pessoa. Aquilo que aparece como novo para mim é sua dureza, forte ironias e defesas.
R.: Gostei principalmente de lhe ver mais centrada, forte e serena.
U.: Se fosse hoje em dia, eu jamais lhe daria “a mulher sem pecados”* novamente.
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* livro de Nelson Rodrigues.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Caio Fernando Abreu in "Os dragões não conhecem o paraíso", p. 148.
domingo, 15 de junho de 2008
Tudo estava indo bem no país das maravilhas quando um velho sentimento resolveu reaparecer. Eu acreditava ter me despedido no dia em que pus um ponto final em forma de tatuagem - uma lua - na minha epiderme. Ali era o limite, decretei exausta. Eu tinha quinze anos quando o conheci. Ele era grande demais para o meu corpo de menina-moça, que nunca havia experimentado respirar o mundo caótico e sedutor nos pulmões. Seu peso me obrigou a andar com os pés afundando e sua aspereza me perfurava o peito sem piedade. E ele nem era por mim. Nem vinha de mim. Espetava a cada um dos vinculados a seu modo. - Lua, me lava a alma e me leva embora*. Porque se minha voz tivesse força igual à imensa dor que sentia, meu grito acordaria a vizinhança inteira**. E quem dera que se tratasse de dor de cotovelo ou de qualquer tipo de luto simbólico. Agora ele volta. O peso extravasa em tensão no ombro, como se tivesse carregado 15 kg nas costas o dia inteiro. Eu sinto mais indignação do que compaixão. Percebo então o grande cansaço que outrora deixou. Constato: não tenho mais tanta carne pra deixar-me conduzir pelo medo e fraqueza. Descarregue nas costas, mas não vai machucar meu peito de novo. O tempo é outro e meus mecanismos de defesa estão afiadíssimos. Doses cavalares de serenidade, por favor!
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*em itálico, um trecho da música "samba a dois" de los hermanos.
** adaptação discreta da música "há tempos" de legião urbana.
quinta-feira, 10 de abril de 2008
Da solidão e o eterno-retorno
Mesmo após mais de dez anos (talvez bem mais), eu continuo andando em círculos em alguns aspectos. É a velha lei do eterno-retorno que faz todo o sentido para mim. Perguntando a um colega de faculdade se ele já tinha formado o seu grupo para uma prova prática de uma disciplina de laboratório, ele brincou dizendo que não, que estava “avulso”. Ri e fiquei pensativa: eu sou avulsa o tempo todo então. Parece-me que não importa muito o local, a mesma sensação não demora a retornar.
Sou de tantos. Sou de tão poucos. Sou de ninguém. Passeio por entre todos os grupos. Vejo-me um pouco em todos e em nenhum ao mesmo tempo. Como uma dialética ambulante (seria cabível esse termo aqui?).
A delícia é não se sentir limitada, é poder transitar conforme o seu humor e poder se recolher numa boa, sem precisar de avisos ou perguntas. E as dores? Muitas. Quando todos se agrupam e você não se manifesta, você quase não é lembrada. Não faz falta. Sua figurinha não preenche o álbum porque simplesmente ninguém acha que você o compõe. E não compor álbum nenhum dói. Não é vitória como alguns enxergam ser. Não é ser bem-resolvido. É solidão na sua esfera mais áspera mesmo.
terça-feira, 18 de março de 2008
Sobre referências e pedrinhas
Duas de minhas referências caíram feito pedrinhas em fundo de piscina. Essa analogia, que eu nem sei se já foi utilizada por alguém, faz total sentido quando lembro delas pulando das minhas mãos pequenas para um chão mais profundo, sendo visualizadas com a mesma transparência de uma água límpida. A diferença é que hoje não sou mais aquela criança entusiasmada, com um pique fantástico para mergulhar e resgatar as benditas quantas vezes quisesse. O fôlego já não é mais o parceiro de sempre. Ando me cansando muito facilmente.
(Ai. Pense como é difícil escrever sobre isso, colocar o dedão na ferida que se abriu, mas sei que é preciso).
De um lado, a ausência e a inconstância. Depois de muito ser escaldada, sou um gato covarde e trêmulo. Não bastasse isso, viramos dois desconhecidos. Minhas necessidades provavelmente nunca vão ser bem recebidas e só conseguimos falar a mesma língua na hora do jogo de farpas. Mas já doeu mais.
Do outro, a coerência, antes irretocável, começou a borrar e já atrapalha a minha visão quase que totalmente. Já não sei mais de quem se trata, na verdade. O que deseja, espera do mundo e o que ama. Parece ter se esvaziado de si para dar lugar a uma ilusão das mais egoístas. E ninguém mais entra no seu mundo a não ser sua perigosa ilusão, onde inclusive se tornou ínfimo para si próprio. A brincadeira de “autista por opção” tomou proporções antes inimagináveis: perdeu aquela coragem de sentir o sol arder na pele para lembrar que está vivo. Talvez não queira mesmo e nem sinta falta. Pudera eu não sentir falta, não sofrer pelas sobras que recebo e pelo que sou obrigada a ver. O mundo não perdoa. É mais cruel e cortante do que eu supunha quando era viciada no modo Legião Urbana de ver o mundo, nos melhores anos (e ingênuos) da adolescência. O mundo só nos tira o que a gente acreditava ter.
"Quase acreditei na sua promessa
E o que vejo é fome e destruição
Perdi a minha cela e a minha espada
Perdi o meu castelo e minha princesa"
(Legião Urbana - Metal contra as nuvens)