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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Se eu não consigo te sentir, a distância é ocupada por um grande vácuo. Não sei ficar à mercê do acaso, dos encontros efêmeros e desastrados numa hora que nunca sabemos quando vai ser. Os ritos e a comunhão vão se desgastando por estarem a esmo.

Em tempo: o meu amor ainda caminha sobre frágeis trilhos de papel.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Onde alcançar o espaço no teu coditiano capaz de me aquecer? Você me vem de forma tão pesada, quase nem me olha no olho. Eu me pego a sempre tolerar seus sumiços, nesse duelo de bicudos, nesse vão que me parte ao meio. Onde você está por detrás de tantas roupagens e subsídios inúteis? Cadê meu herói para me preparar vitaminas de abacate e me carregar ao colo toda vez que eu adormecer no carro, no caminho de volta para casa? Que saudade dos passeios no parque que não fizemos, dos filmes que não vimos juntos, de todos os lugares do país que você visitou tantas vezes e nunca me levou contigo. Que saudades da tranqüilidade que não te era peculiar, do compasso ausente em nossos diálogos e do tempo que você não tinha para mim, para nós. Você sempre tão prestativo para os outros e tão azedo para mim, cego ou tão temeroso para as minhas lacunas. Tantas projeções, lamas desnecessárias, muros intransponíveis de silêncio. Que medo você tem de se aproximar, de pedir colo, de acalentar? Foge ofegante para não implorar ajuda e tem, em colos alheios, o carinho que necessita. Em colos sujos, enquanto você rejeita o que te é sagrado.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Quando eu quis ser grande

Ser grande era pertencer, eu pensava. Queria me tornar grande para poder ser, enfim, parte de vocês. Quando chegaria? – eu divagava todas as noites. – Será hoje? – ritualizava toda a espera. Não, não era hoje. Eu tinha paciência. Tentava me aproximar pelas beiradas, mas quando descobria um lugar vago, era rapidamente afastada dali. Foi assim quando vocês me tiraram daquela cama e me devolveram à rede localizada no pior canto da casa. Nem ouviram que chorei baixinho a noite inteira, nem queriam ouvir. No outro dia, eu sempre me contentava com as migalhas de atenção. – senta aqui, pode ouvir nossa conversa, hoje é seu dia de sorte porque vamos te levar à praça logo ao anoitecer – vocês diziam e eu explodia de felicidade. Uns não queriam de jeito algum: eu incomodava, atrapalhava como uma caixa de papelão que polui a decoração da sala. Mas eu sabia que quando fosse grande seria tudo diferente. Era meu segredo e meu maior sonho: ser grande. Quando o dia chegasse, vocês iriam me olhar de verdade e me amar tanto quanto eu os amava. Eu teria de volta a minha voz. Então, tinha pressa em ser grande, nem que para isso eu passasse maior parte do tempo sozinha, pulando fases, incorporando seriedades. Eu, tão menina, queria homens consideravelmente mais velhos apaixonados por mim e surpresos pela maturidade que não condizia com a idade cronológica. Era deleite, era gozo. Ganhei minha maioridade bem antes do tempo, tinha carta branca para viajar sozinha para onde bem entendesse, comecei a trabalhar antes dos dezoito e não fui morar em outro país apenas por falta de grana, mas ousei mais do que poderia supor, extrapolei os limites de cada fase e fui além, tudo para chegar mais rápido. Se eu queria pertencer, precisava ser grande. E me tornei - um dia me dei conta. Olhei ao redor e tudo era como imaginava, como visualizei, menos pertencer a vocês. Na minha luta íntima, solitária e silenciosa, fui me afastando e vocês, como sempre, nunca notaram. Sangue do mesmo sangue, tantos traços comuns, tantos encontros contrastando com abraços frios e as tentativas de conversas vazias e desprovidas de sentido. Hoje só sinto essa estranheza do lado de cá e uma indiferença enorme desse lado daí. E tudo fica por isso mesmo? Não. Cecília Meireles provavelmente teria transformado tudo em poesia, como se tocando fogo em seus sentimentos, jogasse depois as cinzas, silenciosa, no mar. Fiz isso por muitos e muitos anos, até aprender com Clarice (sim, a Lispector): “Há o direito ao grito, então eu grito”. Porque, depois de tanto tempo, eu descobri que para gritar não precisa ser grande.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Não adianta. Ninguém nunca vai entender o que realmente somos um pro outro. Podem tentar chegar até perto ou muito longe, mas só a gente vai saber o que nos move em direção a essa ligação tão forte. E eu vou estar perto, quando longe e de mãos dadas, sempre que perto. E se meu abraço puder dissolver as dores que você sentir, eu quero ter o colo mais macio e os punhos mais firmes, para te ser confortável, quente e segura nos dias frios e injustos. E vou desejar ser tão alta quanto você, para que sua cabeça se encaixe em meu ombro e eu te cuide. A cada ano que se passa, a gente dá um jeito de dizer: “não saia nunca de perto, por favor” e “eu vou estar com você o tempo todo”. Esses anos hoje se somam em seis. A gente se ama e pronto. Sem rótulos e formas pré-estabelecidas. Amizade limpa. Livre das mesquinharias desse mundo de vaidades. Só enquanto eu respirar...

sexta-feira, 28 de março de 2008

Vez ou outra, eu resolvo entrar pela sua rua, passo em frente à casa dos seus avós e fico me perguntando se você ainda mora por lá ou o que será que faz naquela madrugada em que eu vejo teu carro estacionado e a as luzes em tons lilases por entre as frestas das janelas que sempre acreditei serem do seu quarto. Verá um filme bacana? Fico tentando adivinhar. Algumas vezes coincidiu de eu passar no mesmo horário em que costumávamos nos telefonar e conversar sobre essas dores do existir. Você dizia que nunca ia largar minha mão, lembra? E me sentia imensamente feliz.

Existia um lugar onde eu era sozinha, insuportavelmente sozinha. Um lugar que me dava medo, então eu o comprimia quantas vezes pudesse para escondê-lo num beco escuro. Eu tinha vergonha dele até você chegar e me mostrar como ele não era meu. Que ele existia independente de mim e você fazia parte. Um lugar que se tornava absurdamente mais bonito quando era compartilhado. Pensei ter muita sorte por descobrir a beleza de tudo que eu sentia e pensava sobre as coisas. Era como uma fraternidade secreta e poucos teriam acesso. Assim como Tereza pensou ao encontrar Tomas em “A insustentável leveza do ser” (Milan Kundera). Achei que era única no mundo para você e você era único no mundo para mim, tal qual a flor do pequeno príncipe. Sem perceber, associei você à beleza que acabara de descobrir. Quem assim não teria a mesma importância? Como se tua mão tivesse me resgatado do vazio que me obrigava a sentir vergonha do que eu tinha de mais precioso. E quando você resolveu ir embora, eu tive medo que tudo voltasse a ter a cor cinzenta de antes. No entanto, o que vi já não podia ser tirado de mim. E mais: o caminho estava só começando a ser descoberto. Encontrei pessoas incríveis e percebi que a tal fraternidade é mais habitada do que minha arrogância supunha. Quase cinco anos se passaram. É claro que eu não sou mais a mesma e endureci deveras, mas uma das diferenças mais gritantes é que desde então nunca mais eu tive seus passos acompanhando os meus, ainda que por poucos dias, simplesmente porque você bloqueou o canal e até hoje eu espero que você volte, mesmo que qualquer um diga que eu só fui um brinquedo eficiente para o seu sadismo. E isso dói forte e pinga lentamente como um conta-gotas.