quarta-feira, 24 de março de 2010

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Encolho-me para caber em versos que não sou. Em críticas que, em última instância, compreendo não precisar. Encolho-me para o encaixe estético, travo a língua e arrisco meu passo em falso. Por qual motivo? Tocar as mãos daquela que é alcançada por pássaros de outras castas? Pregar asas no sumo escrito agarrado em minhas pernas, como filho inseguro? As mãos se estendem desconhecendo minha frágil respiração poética. Pouco relevei a fluidez da minha prosa. Ela precisa de coragem, mas há que ser sem esperanças - disse-me. Por qual motivo? A falta dele (e minha) é objeto espaçoso na sala de espera.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Espio um jardim

Imagem: Chagall


Cercas sem arames farpados. Um verde de mastigar com os olhos. Ponte que faz Poti tocar a mão de Iracema, fortemente. Sorrisos de estremecer o corpo. À sombra dos eucalipitos, enraizamos nossas juras de amor sob a testemunha da mãe-terra - molhada, cheirosa, fértil. Eu me rendo e dou de ombros às súplicas das tempestades sem abrigo. Você me quer livre e eu me permito sentir o gosto doce desse passo. Te quero, meu cheiro amadeirado, trazendo as boas novas daqueles campos onde o amor não se valida com as inflamações torpes, as nocivas labaredas, onde os ossos se fraturam nas esquivas - o amor não é desamor. Munido de tinta azul, nosso lar já se ergue na beira do ribeirão com grandeza de mar. Beijo tuas mãos.


Obs: Texto escrito em volúpia, sem censuras, como uma queda d'água que flui em rapidez, inspirado nas palavras de um jardim suspenso.