segunda-feira, 26 de maio de 2008

Não adianta. Ninguém nunca vai entender o que realmente somos um pro outro. Podem tentar chegar até perto ou muito longe, mas só a gente vai saber o que nos move em direção a essa ligação tão forte. E eu vou estar perto, quando longe e de mãos dadas, sempre que perto. E se meu abraço puder dissolver as dores que você sentir, eu quero ter o colo mais macio e os punhos mais firmes, para te ser confortável, quente e segura nos dias frios e injustos. E vou desejar ser tão alta quanto você, para que sua cabeça se encaixe em meu ombro e eu te cuide. A cada ano que se passa, a gente dá um jeito de dizer: “não saia nunca de perto, por favor” e “eu vou estar com você o tempo todo”. Esses anos hoje se somam em seis. A gente se ama e pronto. Sem rótulos e formas pré-estabelecidas. Amizade limpa. Livre das mesquinharias desse mundo de vaidades. Só enquanto eu respirar...

quinta-feira, 15 de maio de 2008

sobre cacos e laços

O que a raposa diria ao principezinho sobre resgatar laços (talvez) desfeitos? Penso que ela novamente lhe lembraria da necessidade dos ritos, de encher o coração deles para se preparar para a chegada do outro. E ao invés dos ritos exclamativos só há um silêncio desconhecido por dentro? Seria uma espécie de rito também? Um silêncio de corações arranhados em pontos tão delicados. Um silêncio recolhido em sua insignificância confusa. Um silêncio que não consegue falar. Voz que engasga antes de existir. Falta. Trava. Curva-se sem orgulho e com serenidade. Serenidade. Não é a ausência de Drummond, mas a sinto aconchegada nos meus braços. Sim, a serenidade. Por ela, respeito a mudez e respeito também sua chegada. Porque sua saída provocou dor aguda e a chegada eu não sei dizer. Se a gente sentasse um pouco mais perto, a cada dia? E eu te contarei histórias e você me contará as suas de coisas periféricas, a priori. E o barulho do vento no trigo voltará a me fazer rir uma vez que me lembrarão seus cabelos loiros? Que seja doce e pare de doer em nós.

(Porque eu desejei ser grande para abraçar todas as nuances da terra encantada de tão contraditória, mas ela me entregou uma tristeza que me abocanhou com facilidade e me fez menor que um grão de poeira de céu nublado).

domingo, 4 de maio de 2008

manifesto contra a cegueira I

Farejo os cantos. Há um cheiro desconhecido, um amadeirado um pouquinho doce que não invade a sala provocando grandes euforias ou dor de cabeça. Fosse outrora, eu estaria vasculhando tudo a fim de saber de onde veio. Mas não, fico quieta e o deixo passar pelas minhas narinas como bem entender. Meus receptores olfativos parecem apurados e minha percepção seleciona, organiza e me devolve em interpretação: sim, eu gosto. Divirto-me em tentar enxergar as coisas pelo viés dos processos básicos psicológicos. Não se limita em revisar para a prova, é muito mais. Porque há um deleite que faz a roda da minha vida girar como um carrossel dos sonhos de criança. Um giro sem altos e baixos assustadores. Uma sincronia de movimentos e tons lilases, sem pressa alguma. Um contexto que me presenteia com a graça em olhar mais para dentro das pessoas. Um olhar fundo, embriagador para alguns e devastador para outros. Colho pequenezas, restos ensangüentados e um vazio em se desconhecer e se perceber maltrapilho de sentimentos. Vias que me levam para um passeio de coisas rígidas, leves ou intrigantes por demais. Tem tanta coisa nesse mundão de meu deus. Tanto desejo não permitido e pouco elaborado. Tanta gente que se esconde e se pinta de cores que nunca serão suas.

Bom mesmo é me deparar com aquele pequeno bote de pessoas se aventurando nas corredeiras, enfrentando as quedas d’água, arranhadas pelos galhos soltos – expostas por espontânea vontade e instinto.

- Ei, esse seu olhar está me perturbando! É cortante!

- É afrodisíaco. Excitante. Gosto de ser despido desse jeito por você.

- Meu filho, quem é mesmo aquela moça de olhos tão vivos?