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terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ele, das íris mais prósperas, segurou timidamente a minha mão e depois me tirou para dançar. Fez um carinho discreto em minhas costas. Gentilmente, sem me invadir. Achei sutil e charmoso. Correspondi no mesmo ritmo. De volta para casa, Bob Dylan no som, diminuindo o espaçamento da nossa comunicação cheia de sulcos. Um jeito torto de dizer: estamos muito perto.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Já.

Nem deve ter prestado atenção quando eu contei que tinha varrido para debaixo do tapete. Fiz drama, insinuei desespero. Tão bobo, não vê que o tapete está na minha casa e eu sei muito bem levantá-lo? Boba eu, talvez, que vejo com tanta dificuldade algo tão simples. Costuro minha sombra de volta: ele e aquele outro já me olham diferente e eu não me sinto fraca. Ponto. Quero ficar só. Estou bem aqui, eu com minha lucidez. Nada de cacos sobre a pele. Descanso do rastejar que abomino. Tenho de volta a liberdade do meu trânsito,. Avante em movimentos fluorescentes (quadro de Hendrix a testemunhar íris mais prósperas). Se é só por hoje? Quem se importa?


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009



eu na praia de pipa-rn


Por fuga, consegui ter o mais movimentado dos verões. Só para me distrair, vi tanto o sol se pôr em lagoa, em mar, em fazendas nas estradas. Querendo esquecer os pesos, tomei muito banho de mar. E para não ser sozinha, corri para o abraço de primos, tias e avós. Senti o cheiro deles, virei noites fazendo bagunça no quarto, papariquei, fiquei mais na cozinha para aprender as raridades gastronômicas, para tentar fazer junto com o primo caçula que, com dez anos de idade, já sabe fazer molho branco, refogar macarrão, ganhar de mim no UNO... É abraço pra cá, você é linda pra lá, me enche de mimos e me orgulha com sua esperteza incomum. Até caminhar em areia fofa da praia, em noite de lua cheia, junto com a tia mais bonitona, só para eliminar as calorias de tanto caranguejo, peixe frito e rocambole de chocolate com recheio de morango em pedaços. Apostei corrida de caiaque com a prima mais traquina e hiperativa do mundo, na lagoa. Sai desbravando estradas apenas com minha irmã para fazer um roteiro só nosso, de muito descanso e dias de sol. Conversei por horas e horas com uma pessoa com raízes no mundo e ganhei brincos em forma de libélula, pulseirinhas e anéis e quis ficar perto e ser mais mar. E ainda teve sessões de filmes, todo mundo junto, apertado, em colchões na sala, como em outrora era tão mais comum acontecer e hoje tem gosto de nostalgia. Os gatos do meu avô (Felipe, Olga e Anita) pintaram o sete na casa de praia, tiraram a paciência do labrador Bruce enquanto este estava preso, enquanto minha miloca (a cadela mais carinhosa do mundo) jogava sua bolinha azul na piscina e vivenciava a maior das aventuras para tentar resgatar e eu me divertindo horrores com as peripécias dessas criaturas, quando não estava enchendo Dona Maria de beijos. Depois era hora de ver estrelas e pensar em tudo que é tão maior, só para não me sentir triste ao me lembrar daqueles dois (que dão tanto trabalho).

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Se eu não consigo te sentir, a distância é ocupada por um grande vácuo. Não sei ficar à mercê do acaso, dos encontros efêmeros e desastrados numa hora que nunca sabemos quando vai ser. Os ritos e a comunhão vão se desgastando por estarem a esmo.

Em tempo: o meu amor ainda caminha sobre frágeis trilhos de papel.

sábado, 6 de setembro de 2008

Pedindo licença


Sentou-se bem de frente a mim, naquele colchão na varanda da casa da lagoa. Trouxe o violão e me deu o primeiro sinal da sintonia inata, mesmo sem trocar mais do que cinco palavras - a discrição. Ainda sem nem saber o seu nome, num impulso não censurado, dias depois, foi ele que eu quis tirar pra dançar e a linguagem corporal foi compreendida na medida exata, fincando em solo a ponte que estreitaria a distância, mais um pouco à frente - a surpresa. Depois eu tive medo, "pois o próximo instante era o desconhecido". Lembrei de Clarice. Recuei e voltei em flor semi-aberta, numa mudança de perspectiva ponderada e amadurecida - o discernimento. Uma tranqüilidade passou a fazer morada por essas bandas e a sensação não era de algo novo, esse entusiasmo tantas vezes efêmero. Não, parecia mais que eu havia descoberto um baú de antigüidades, conservadas da corrosão do tempo por uma perfeita redoma. Lá estavam caixinhas de músicas e letras em papéis amarelecidos. Deleitei-me, como se soubesse que aquilo sempre tivera sido meu - os ritos. Tinha cheiro de Clarice de novo e sua felicidade clandestina, ao se divertir num balanço, abraçada no livro de Lobato que contava as Reinações de Narizinho - as coisas atemporais.




* * * *
Ps: Texto escrito em 08/08/2007. Está no antigo blog, mas eu gosto tanto dele que resolvi trazê-lo pra cá.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Esse samba

Eu fui sozinha. Deus, como fazia tempo que eu não ousava tanto. A Ribeira, tão vazia em fim de tarde, tinha cheiro de saudosismo como um retrato em preto e branco. Tive medo. Cheguei, como dizem, “pelas beiradas”, quase me escondendo. Tirei o celular da bolsa, fingi tentar ligar para alguém, olhei meio inquieta pro relógio... Pelo o amor dos deuses, como é difícil estar só estar só vez em quando! Devo ser mesmo muito extremista, pois bem sei a vontade danada que tenho de dar minhas voltas solitárias, a fim de conferir o ambiente, quando saio com outras pessoas. No entanto, naquele buraco da catita, eu achei ruim estar só. Talvez eu goste de uma "liberdade segura", por assim dizer. Mas, voltando: o samba ia esquentando e todo mundo agregado. Com quem eu iria comentar que a música Desalinho é a cara da minha mãe? E que Cartola (e todo o samba da velha guarda da mangueira) é mantido no repertório das batucadas da minha família há mais de 40 anos? Só então eu percebi que o samba se torna infinitamente mais triste quando se está só. Samba é música de roda, de olhar no olho, de se apropriar do tamborim alheio enquanto o dono sai para ir ao banheiro ou pegar mais uma bebida... O que fazer? Decidi respirar fundo e curtir mesmo assim. Pelo samba, o sacrifício era mais que válido. A cerveja e a música foram me animando cada vez mais e, quando percebi, já estava com os pés ganhando vida própria, involuntários, doidos para sambar. O canal se abriu e as pessoas ao redor me acenaram com a mão, num gesto de aprovação à ousadia que começara tão cabisbaixa. As meninas da mesa à frente tomaram coragem e me chamaram para perto. Os músicos tiraram o chapéu e atenderam nosso pedido de Tiro ao Álvaro. Quase havia me esquecido que o samba é isso. O samba é buliçoso. O samba balança, mas não cai.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

sobre cacos e laços

O que a raposa diria ao principezinho sobre resgatar laços (talvez) desfeitos? Penso que ela novamente lhe lembraria da necessidade dos ritos, de encher o coração deles para se preparar para a chegada do outro. E ao invés dos ritos exclamativos só há um silêncio desconhecido por dentro? Seria uma espécie de rito também? Um silêncio de corações arranhados em pontos tão delicados. Um silêncio recolhido em sua insignificância confusa. Um silêncio que não consegue falar. Voz que engasga antes de existir. Falta. Trava. Curva-se sem orgulho e com serenidade. Serenidade. Não é a ausência de Drummond, mas a sinto aconchegada nos meus braços. Sim, a serenidade. Por ela, respeito a mudez e respeito também sua chegada. Porque sua saída provocou dor aguda e a chegada eu não sei dizer. Se a gente sentasse um pouco mais perto, a cada dia? E eu te contarei histórias e você me contará as suas de coisas periféricas, a priori. E o barulho do vento no trigo voltará a me fazer rir uma vez que me lembrarão seus cabelos loiros? Que seja doce e pare de doer em nós.

(Porque eu desejei ser grande para abraçar todas as nuances da terra encantada de tão contraditória, mas ela me entregou uma tristeza que me abocanhou com facilidade e me fez menor que um grão de poeira de céu nublado).

domingo, 4 de maio de 2008

manifesto contra a cegueira I

Farejo os cantos. Há um cheiro desconhecido, um amadeirado um pouquinho doce que não invade a sala provocando grandes euforias ou dor de cabeça. Fosse outrora, eu estaria vasculhando tudo a fim de saber de onde veio. Mas não, fico quieta e o deixo passar pelas minhas narinas como bem entender. Meus receptores olfativos parecem apurados e minha percepção seleciona, organiza e me devolve em interpretação: sim, eu gosto. Divirto-me em tentar enxergar as coisas pelo viés dos processos básicos psicológicos. Não se limita em revisar para a prova, é muito mais. Porque há um deleite que faz a roda da minha vida girar como um carrossel dos sonhos de criança. Um giro sem altos e baixos assustadores. Uma sincronia de movimentos e tons lilases, sem pressa alguma. Um contexto que me presenteia com a graça em olhar mais para dentro das pessoas. Um olhar fundo, embriagador para alguns e devastador para outros. Colho pequenezas, restos ensangüentados e um vazio em se desconhecer e se perceber maltrapilho de sentimentos. Vias que me levam para um passeio de coisas rígidas, leves ou intrigantes por demais. Tem tanta coisa nesse mundão de meu deus. Tanto desejo não permitido e pouco elaborado. Tanta gente que se esconde e se pinta de cores que nunca serão suas.

Bom mesmo é me deparar com aquele pequeno bote de pessoas se aventurando nas corredeiras, enfrentando as quedas d’água, arranhadas pelos galhos soltos – expostas por espontânea vontade e instinto.

- Ei, esse seu olhar está me perturbando! É cortante!

- É afrodisíaco. Excitante. Gosto de ser despido desse jeito por você.

- Meu filho, quem é mesmo aquela moça de olhos tão vivos?