Corpos de sal grosso, cama-enseada - a baía que não cortava a nossa distância.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Corpos de sal grosso, cama-enseada - a baía que não cortava a nossa distância.
segunda-feira, 2 de março de 2009
valsa brasileira
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Das escolhas I
E só os deuses e as pessoas mais íntimas captariam a imensa importância disso.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Me lava a alma e me leva embora
Parecia um inferno astral fora de época. Após um mês de reclusão voluntária, resolveu tomar um banho demorado e se arrumar para a saída da noite, como se estivesse seguindo um precioso ritual. Escolheu a calça jeans que melhor desenhava o seu corpo da cintura para baixo e uma blusa vermelha, decotada na medida certa para não ficar vulgar, apesar da cor já sugestiva. Colocou um salto alto enquanto se maquiava e lembrou-se de uma vez que leu numa revista que a primeira peça de roupa que toda mulher deve vestir é o salto alto, mesmo que nem fosse sair com ele, só pra se sentir impecavelmente sensual. Riu sozinha por não saber se enquadrava isso no campo das coisas sábias ou fúteis. Quebrando toda a rotina, decidiu não ir dirigindo daquela vez e aceitou a carona de uma amiga. A intenção era ficar o mais livre possível mesmo, sem aquela preocupação por antecedência de não poder extravasar a seu bel prazer. Chegou ao local do show que iria assistir e notou-se muito receptiva em relação aos outros, como se o universo, naquele instante, devolvesse-lhe o forte magnetismo de outrora. Surpresa e animada, bebeu a primeira cerveja e ficou ligeiramente tonta. Estava em comunhão com as pessoas e com todos os “eus” que lhe habitavam. Deixou a saudade mal curada lhe invadir e salpicar-lhe na cara uns bons momentos de uns anos atrás, quando cantou a despedida dos cegos do castelo para cuidar de um jardim, do jantar e do céu e do mar. Por onde ele andou enquanto ela o procurava? Salpicos de desencontros, também. Bebeu mais três cervejas. Abraçou com intensidade. Cantou
domingo, 23 de março de 2008
Da série: narrativa de metaformoses I
De súbito, lembrou-se da passagem de A paixão segundo G.H. onde Clarice narra o episódio da barata e riu em pensamento por causa da comparação esdrúxula. Mesmo que tentasse pensar, sabia que não conseguiria. Era coisa demais para a sua cabeça de ervilha. E se conseguisse? Teria medo? Constrangimento? Tudo que ela queria era a possibilidade de um botão de retroceder, entretanto não naquele exato instante. Ali, não sabia o que queria, mas desejava ter qualquer válvula escapatória pra quando processasse qualquer coisa. O pior é o fato de, no frigir dos ovos, não se tratar de uma questão de querer e, sim, de ser. Em quê se transformaria, pois? Seria muito ou pouco? Temia o buraco até então desmedido que sua alma fazia-lhe o favor de formar. – Ai! Deve ser denso -, pensava ela, captando os presságios. Já seria um caminho para algo maior que a liberdade que julgava conhecer? Tudo por causa de um momento em que resolvera afundar em si. Até pouco antes, havia uma barreira invisível que não a deixava ultrapassar as linhas-limites de si própria. Como um gole de uísque que nunca conseguiu dar, por anos, só por julgar ser muito forte. É claro que um dia até experimentou, mas fazendo questão de adicionar qualquer coisa mais doce e já conhecida. Infelizmente, ali não dava para misturar com açúcar mascavo. Engoliu a seco mesmo e, como se bloqueasse involuntariamente, nada sentiu, mas um pano de fundo lhe era muito claro: não tem volta, não tem volta, não tem. Quem era ela pra contrariar Caio Fernando Abreu quando disse que se você conseguir um dia realmente ver, você estará perdido, pois nunca vai conseguir voltar atrás no que viu e as coisas jamais voltarão a ser as mesmas?! Então se tudo que a gente percebe é porque já sentiu, estaria ela perdida? Pensou e suou frio.