Tuas palavras
Tocaram as minhas
Em terras
Que só a poesia alcança
Estavam cansadas, esquecidas
Afogadas, sufocadas
Inflamadas.
Juntas sopramos poeiras
Fizemos preces
Dançamos em volta do fogo
De mãos dadas
A ciranda
Das mulheres-lobos
Dos pés descalços
Da carne rasgada.
Girassol Noturno
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Cheguei aqui
Cheguei aqui
Para lhe mostrar
Como eu própria
Sustento-me.
Ele não sabe
Do fio tênue onde equilibro
Os choros abafados.
Só vê esse rosa-lilás
Contornos dourados
Anéis de Tucum
E meu olho-chama.
Tenho certeza que vê.
De peito erguido
Exponho o cartaz:
Sua previsão de morte não vingou!
A vida me aceitou.
Quer você queira
Quer não.
Para lhe mostrar
Como eu própria
Sustento-me.
Ele não sabe
Do fio tênue onde equilibro
Os choros abafados.
Só vê esse rosa-lilás
Contornos dourados
Anéis de Tucum
E meu olho-chama.
Tenho certeza que vê.
De peito erguido
Exponho o cartaz:
Sua previsão de morte não vingou!
A vida me aceitou.
Quer você queira
Quer não.
Enquanto te esperava
Enquanto te esperava
Arquétipos antigos
Brindavam meu feminino
Aranhas de Louise
Inchados ventres
Mulheres-anjos de asas amputadas
Tanto mudou.
Tanto chegou.
Pensei se ainda sei de mim
Se ainda toco
lugares incendiados...
Atenta,
Alas de gansos e gaviões
Desfilavam.
Arquétipos antigos
Brindavam meu feminino
Aranhas de Louise
Inchados ventres
Mulheres-anjos de asas amputadas
Tanto mudou.
Tanto chegou.
Pensei se ainda sei de mim
Se ainda toco
lugares incendiados...
Atenta,
Alas de gansos e gaviões
Desfilavam.
terça-feira, 22 de julho de 2014
Os seus olhos matam minha sede, meu menino. Já nem sei dizer direito quem fui, quem serei. Só sou. Mãe-mamífera cheia de leite-calor-proteção. Mãe-águia, mãe-beija-flor. Um infinito sentimento de amor me arrebata. Suas mãos, fonte de toda delicadeza. Seu sorriso, sua pele, sua alegria, minha morada. Seu cheiro, seu cheiro, seu cheiro... Ahhhh.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Tecelã de palavras
As palavras que não escrevi implodem. Dentro do corpo, nos lugares inquietos da minha alma. Distanciada do que foi, por mais de uma década, meu forte recurso de sobrevivência no mundo simbólico, fico sem saber o que fazer com tanto sentimento não passado pela senda da poesia - lugar de pegar palavras-sentimentos e fazer alquimia, mergulhada numa ordem que transforma incômodos em nascimentos viscerais.
Um dia desdenhei as pérolas literárias produzidas em profunda fidelidade comigo mesma. Não lhes acolhi no espaço mais bonito do coração. Deixei pra lá, como se não me dissesse mais respeito, como se não me fosse mais necessário o corte da palavra. Mas eu sei que, no íntimo, eu só queria sair do mundo das ideias e viver cada gota de cachoeira limpando minhas confusões egocêntricas, cada pisada na terra fortalecendo meus pés-raízes. Não observei a arrogância e a falta de gratidão. E hoje, implodida das palavras que não escrevi, das elaborações que não fiz, chamo a velha tecelã adormecida que mora em mim para darmos continuidade às colchas de retalho-palavra. Eu, velha tecelã de palavras. Eu, mulher empoderada e parideira. Eu, criança ferida. Integradas para iluminar escuridões, para ensolarar.
Então, nesse momento, sou tomada por uma especial compreensão sobre meu girassol: ele nunca deixou de ser noturno. O poderoso sol o alimenta e guia em suas infinitas circuladas, mas é a noite que nos encontramos e eu o tomo de amuleto e lamparina na lide com minhas sombras.
Então, nesse momento, sou tomada por uma especial compreensão sobre meu girassol: ele nunca deixou de ser noturno. O poderoso sol o alimenta e guia em suas infinitas circuladas, mas é a noite que nos encontramos e eu o tomo de amuleto e lamparina na lide com minhas sombras.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
O rasgo das palavras
Encolhida feito feto, ponho-me a
pensar nas referências de mim mesma. Onde tropecei, que nem mesmo vi? Um tanto
confusa, lembro-me deste lugar-refúgio de palavras. Um tanto confusa, indago se
aqui ainda cabe um pouco de mim, dos meus ais, dos meus suspiros e também da
falta de ar. Por que volto, se tanto acreditei que esse caminho, uma vez
clareado, jamais voltaria a ser escuro? Não sei, mas algo me diz que se cá estou,
coisas perdidas vim buscar. Antes de parir, para morrer e renascer mãe. Vim
buscar o rasgo das palavras. O rasgo que dá passagem. O rasgo que me fez crescer,
conhecer a dor e transcendê-la. O rasgo que deixei para lá, preenchida pelas
cores das flores, pela cachoeira saciando minha sede, as medicinas da floresta
cuidando da minha fome, a alegria, tão somente a alegria... Para quê voltar
para o rasgo que é escrever? Pois é. Grande mistério. Grande liberdade. Depois
da expansão, vem contração. Movimento universal – das minúsculas às grandes
partículas. Contraindo, rasgando e significando.
Mais um texto sem desfecho.
Mais um texto sem desfecho.
domingo, 31 de março de 2013
Sopra um vento que encontra meu peito. Que ar sutil é esse, como uma pluma a se desmanchar vagarosamene? Olho para dentro e sinto meus nervos ainda tensionados ao redor e por entre o coração... Trancas de defesa, de um endurecer para não sentir mais. Puxo o ar pelas narinas até chegar aos pulmões de pouca expansão. Percebo o diafragma em seu posto sentinela, contraído para cima, ajudando-me na maléfica função de não soltar o pesçoco e a cabeça - um controle que já não faz mais sentido algum. Pacientemente, como a negociar com minhas tensões, demoro-me mais na respiração, ampliando a onda que vem e vai. Sim, há uma grande surpresa: eu posso respirar, posso sentir, posso aceitar. E a barulheira de outrora, trazida de fora para dentro só para amortecer, já não me impede de escutar que um presente tão interior chegou. E tudo que eu já esperava se repetir, desmorona. Um desmoronar suave, muito suave. São os espelhos trincados que não restiram à força da verdade. Da verdade que me diz: sim, você tem direito ao ar, à terra, ao fogo e à água. E eu suspiro aliviada, sentindo em mim o abraço do vento nas árvores, que passa a bailar toda a fluidez do universo.
quarta-feira, 25 de julho de 2012
jasmim e o vento
um pé de vento
correu
para o pé de jasmim
foi tanto cheiro bom
que não existia
nem eu nem tu
a natureza
que é rainha
mostrou meu lindo lugar:
ser pequenininha.
correu
para o pé de jasmim
foi tanto cheiro bom
que não existia
nem eu nem tu
a natureza
que é rainha
mostrou meu lindo lugar:
ser pequenininha.
Dos abraços que me dou
Havia um medo
Que só foi embora
Após ser acolhido
Por mim mesma
Só há amor
Se este é capaz de fazer
Do meu coração
A minha grande mãe.
Que só foi embora
Após ser acolhido
Por mim mesma
Só há amor
Se este é capaz de fazer
Do meu coração
A minha grande mãe.
Ser árvore
Muito a dizer é não ter nada a dizer.
Fico com esse sol acordando dentro do peito,
Fico com esse sol acordando dentro do peito,
O apaziguante abraço da terra que é mãe
Em seu útero - suporte de vida
Em seu útero - suporte de vida
Onde seguramente posso libertar minhas raízes
Ser árvore:
Aconchego dos bichos
Sombra dos caminhantes
Casa das velhas sábias
Parque dos curumins
Aconchego dos bichos
Sombra dos caminhantes
Casa das velhas sábias
Parque dos curumins
Colo das águas, colo meu
Na firmeza das estrelas.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Aqui-agora
É chegado o momento: o sol vem deitar suas luzes no lar que sobrevive. Tanto amarelo-ouro no abraço que os braços se alargam para alcançar – já sabendo que tudo cabe ali, pois tudo já está. Preto velho espia a passagem, com seu cachimbo defumador a abrir os caminhos da abundância. A Grande Mãe aceita o convite e pousa ao lado das flores – é Jasmim anunciando a simplicidade perfumada. Refazer caminhos para unir. Alegria para elevar. Agradecer para transmutar.Ser para estar.
sábado, 26 de novembro de 2011
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Desapegos da jornada
Meses deslizaram torpes e sagrados.
Sequer posso tocar tanta amplidão, tanto arfar em meio às sombras que iam recebendo luz.
O vale noturno, por onde o girassol muito se nutriu e excretou, precisou ser abandonado. Levemente, como tinha de ser. Sem nada levar. Sem nada voltar para buscar.
- - -
Um corpo molenga, de rigidez-escudo, começa a erguer seu peito e firmar seu ponto - menos caboclo não haveria de ser.
A desindentificação simplesmente aflora em seus primeiros passos. É mesmo flor: delicada e me faz rir. Percebo que as extensões, onde tanto amarrei meu pé, podem ser desfeitas como numa grande brincadeira de criança.
- - -
quinta-feira, 3 de março de 2011
Do que se é
Se ainda sou um girassol noturno? Pergunta difícil. Para a grandeza da noite, eu, tão metida a altiva, fiquei pequena. A pequena que sempre fui e nunca vi. São tantos espelhos mentirosos que a gente encontra para pendurar na penteadeira. Ou mentirosos somos nós? Se o que fui era tão noite e grande, pequena eu quis ser dia. Sol a queimar a antiga pele até descascar. Azul vistoso para abraçar minha nova criança. Com minha ametista pendurada no pescoço, eu desejei deixar para trás minhas máscaras e minhas já conhecidas fomes de queda. Não compreendi que aquele ser, que também buscava o mesmo azul, cortava junto a mim suas amarras, na mesma sincronia de sempre. Não sabíamos que haveria um trajeto que apenas solitariamente poderíamos passar. Achei que era o fim. Ele enfrentou a solidão. Eu não. Agarrei-me em outra mão pelo velho medo de ficar sozinha. Mão áspera, cheia do mesmo espinho que eu cultuava para minhas autosabotagens. Ferida, entrei para dentro da gaiola que a mão queria carregar. Minha nova pele logo inflamou, o olhar baixou e eu quis anoitecer girassol. Quase acreditei que de nada servira tantos passos, tanto amanhecer e anoitecer. Ainda bem que foi "quase". E esse texto termina assim, como se ainda tivesse muito a dizer. Sem desfecho porque este é mais um início.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Lugar
Aqui, o barulho dos corredores
Parece não me dizer respeito.
Atravesso quase invisível
As densas camadas da escassa interação
Como se fosse para fora,
Como se fosse estranho.
Insistente, quando não indecisa,
Essa realidade arfa sobre mim
Com seus tentáculos atrozes.
Às vezes humilde,
Noutras desencorajada,
Permaneço em meu lugar:
Enumerando solidões.
(Isabella Maia)
Parece não me dizer respeito.
Atravesso quase invisível
As densas camadas da escassa interação
Como se fosse para fora,
Como se fosse estranho.
Insistente, quando não indecisa,
Essa realidade arfa sobre mim
Com seus tentáculos atrozes.
Às vezes humilde,
Noutras desencorajada,
Permaneço em meu lugar:
Enumerando solidões.
(Isabella Maia)
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Sagrado coração
(...)
E quando vi seus olhos
E a alegria no seu corpo
E o sorriso nos seus lábios
Eu quase acreditei
Mas é tão difícil
Por isso lhe peço, por favor,
Pense em mim, ore por mim
E me diga:
- Este lugar distante está dentro de você.
E me diga que nossa vida é luz
Me fale do sagrado coração
Porque eu preciso de ajuda.
(Renato Russo - Sagrado coração)
E quando vi seus olhos
E a alegria no seu corpo
E o sorriso nos seus lábios
Eu quase acreditei
Mas é tão difícil
Por isso lhe peço, por favor,
Pense em mim, ore por mim
E me diga:
- Este lugar distante está dentro de você.
E me diga que nossa vida é luz
Me fale do sagrado coração
Porque eu preciso de ajuda.
(Renato Russo - Sagrado coração)
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Os (aparentes) contrastes da psicologia
Faço uma prece:
Que eu não deixe de perceber que qualquer ato meu, ainda que indiretamente, acalenta uma criança e sua mãe. Há sempre alguns olhares para me lembrar disso pelos corredores. Que eu não deixe de vê-los.
São eles que vão me salvar quando as burocracias parecerem me sugar.
Sim. Há algo MUITO maior.
Que eu não deixe de perceber que qualquer ato meu, ainda que indiretamente, acalenta uma criança e sua mãe. Há sempre alguns olhares para me lembrar disso pelos corredores. Que eu não deixe de vê-los.
São eles que vão me salvar quando as burocracias parecerem me sugar.
Sim. Há algo MUITO maior.
Terça-feira
era uma mulher
e um ramo de ervas
próximo ao nariz.
senti o cheiro:
não era de chá nem de terra.
era cheiro de rugas,
de tempo suspenso
de fazer poético
em pleno meio-dia.
meu olhar interviu sem querê-lo
e eu fotografei o susto
a la manoel de barros.
e um ramo de ervas
próximo ao nariz.
senti o cheiro:
não era de chá nem de terra.
era cheiro de rugas,
de tempo suspenso
de fazer poético
em pleno meio-dia.
meu olhar interviu sem querê-lo
e eu fotografei o susto
a la manoel de barros.
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