quinta-feira, 8 de maio de 2014

Tecelã de palavras


As palavras que não escrevi implodem. Dentro do corpo, nos lugares inquietos da minha alma. Distanciada do que foi, por mais de uma década, meu forte recurso de sobrevivência no mundo simbólico, fico sem saber o que fazer com tanto sentimento não passado pela senda da poesia - lugar de pegar palavras-sentimentos e fazer alquimia, mergulhada numa ordem que transforma incômodos em nascimentos viscerais. 
Um dia desdenhei as pérolas literárias produzidas em profunda fidelidade comigo mesma. Não lhes acolhi no espaço mais bonito do coração. Deixei pra lá, como se não me dissesse mais respeito, como se não me fosse mais necessário o corte da palavra. Mas eu sei que, no íntimo, eu só queria sair do mundo das ideias e viver cada gota de cachoeira limpando minhas confusões egocêntricas, cada pisada na terra fortalecendo meus pés-raízes. Não observei a arrogância e a falta de gratidão. E hoje, implodida das palavras que não escrevi, das elaborações que não fiz, chamo a velha tecelã adormecida que mora em mim para darmos continuidade às colchas de retalho-palavra. Eu, velha tecelã de palavras. Eu, mulher empoderada e parideira. Eu, criança ferida. Integradas para iluminar escuridões, para ensolarar.
Então, nesse momento, sou tomada por uma especial compreensão sobre meu girassol: ele nunca deixou de ser noturno. O poderoso sol o alimenta e guia em suas infinitas circuladas, mas é a noite que nos encontramos e eu o tomo de amuleto e lamparina na lide com minhas sombras.

Um comentário:

Isalúcia disse...

E uma mãe que uma dia pariu uma escritora, tem agora os olhos marejados.
Seu pai gosta de citar o paraibano José Américo de Almeida: "Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde no caminho da volta."
Seja bem-vinda ao seu girassol, minha filha amada.