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quarta-feira, 3 de março de 2010

Espio um jardim

Imagem: Chagall


Cercas sem arames farpados. Um verde de mastigar com os olhos. Ponte que faz Poti tocar a mão de Iracema, fortemente. Sorrisos de estremecer o corpo. À sombra dos eucalipitos, enraizamos nossas juras de amor sob a testemunha da mãe-terra - molhada, cheirosa, fértil. Eu me rendo e dou de ombros às súplicas das tempestades sem abrigo. Você me quer livre e eu me permito sentir o gosto doce desse passo. Te quero, meu cheiro amadeirado, trazendo as boas novas daqueles campos onde o amor não se valida com as inflamações torpes, as nocivas labaredas, onde os ossos se fraturam nas esquivas - o amor não é desamor. Munido de tinta azul, nosso lar já se ergue na beira do ribeirão com grandeza de mar. Beijo tuas mãos.


Obs: Texto escrito em volúpia, sem censuras, como uma queda d'água que flui em rapidez, inspirado nas palavras de um jardim suspenso.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Gone





"You're taking steps that make you feel dizzy
Then you learn to like the way it feels.
You hurt yourself, you hurt your lover
Then you discover
What you thought was freedom is just greed."
(U2 - Gone)




terça-feira, 29 de setembro de 2009

Adélia Prado


O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.

O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Casa de vó



Quase fim de tarde: hora de tomar uma xícara de café com o bolo de laranja mais gostoso do mundo. Faz silêncio em casa e na vizinhança. Entra a minha luz preferida, a da tardinha, por várias direções – aqui tem muitas portas amplas. Minha avó também cumpre seu ritual: acende um cigarro na varanda enquanto observa seu jardim. Nunca mais me falou do beija-flor, freqüente visitante durante alguns anos que lhe lembrava sua mãe. Ofereço-lhe meu café, quero ficar mais perto, deslizo meus dedos pequenos entre suas mechas de cabelo e cheiro sua pele, nas proximidades do ombro. Um carinho que nem sempre ela encontra espaço em seu denso mundo de angústia – o peso que carrega por ser a grande loba da matilha, as nossas entranhas e salvação. Ainda que seja sempre ímpeto, sua casa transborda paz. E, aqui, faço-me parte da ordem, figura constituída. Sinto o chão e o teto. Durmo ao seu lado, como nos tempos de infância, quando acordava no meio da noite para ver se a grande loba, minha mãe terra, continuava a respirar. Aqui, o dia faz mais sentido que a noite. Sou mais Sol, mais próxima do azul. Corpo em frente à lareira, mil comidinhas, sopa deliciosa com torradas, três cães, quatro gatos. Irmã, avô, tia e a avó que é mãe-terra. Minha base, minha família. A referência que me faz forte.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Descansa coração



"Cansei de tanto procurar
Cansei de não achar
Cansei de tanto encontrar
Cansei de me perder

Hoje eu quero somente esquecer
Quero o corpo sem qualquer querer
Tenhos os olhos tão cansados de te ver
Na memória, no sonho e em vão

Não sei pra onde vou
Não sei
Se vou ou vou ficar
Pensei, não quero mais pensar
Cansei de esperar

Agora nem sei mais o que querer
E a noite não tarda a nascer
Descansa coração e bate em paz"

Composição: Simons & Marques / Alberto Ribeiro
Versão escutada: Fernanda Takai

domingo, 30 de agosto de 2009

terra e água

essas chuvas ácidas
bem sei o que traz:
a íris que me finca em solo fértil,
o abraço que me torna pequena,
a boca que se crava em minhas costas
(quando, em carne, somos suor e fome).

__

também sou polarizada,
inflamada e perdida.
trago entulhos:
facas cegas, frases incompletas, murchos girassóis noturnos.

recebe, novamente, a mim.
saliva agridoce, mar alaranjado,
esse desajeitado coração dilatado...

terra e água,
preces para nos sabermos,
como antes,
sagrados.

sábado, 29 de agosto de 2009

Something There is About You

Something there is about you that moves with style and grace I was in a whirlwind, now I'm in some better place. Bob Dylan

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

II




eu teria deixado meu lenço lilás contigo
- fim de noite, tua casa tão perto...
todavia, respondendo meu apelo,
Petrópolis vazia me entregou a recusa.
e em silêncio gritante,
engavetei meu cheiro-presente.

domingo, 2 de agosto de 2009

Assumi os riscos
Despindo-me de toda a razão.
E os cactos para te ferir,
Puseram-se torcidos, punindo meu fraquejar.

Teu peso destemperado
Não tornou leve meu corpo de medos.
Teu olhar fugidio
Já não era mais prenúncio do meu azar.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pouco antes, era blues. Naquele momento, era chuva. O quarto azul me fazia esquecer que estávamos em carnaval (ali parecia mais um bangalô que vi certa vez na praia dos carneiros, em feriado tranqüilo). Noite, seja longa. Chuva, não pare tão logo amanhecer (eu pedia em silêncio para que então nosso quarto de mar se ampliasse para dentro de nós).
Corpos de sal grosso, cama-enseada - a baía que não cortava a nossa distância.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

“que medo alegre o de te esperar”
clarice lispector

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

E esses olhos, cor de minha cachaça preferida, a me fitar? Tão serenos. E esse sorriso cor de areia branca, de abrir caminhos em mim? Leveza de toque na perna, de mão na mão, de beijo na bochecha, de língua que espera. O silêncio bem aceito, o sentir que dá gosto, íris sempre a caçar as miudezas. De certo, ele gosta dos vazios como eu e quis carregar água na peneira também. Ele pára e olha o movimento que o vento faz nos meus cabelos, fica ali olhando, contando das suas andanças e eu, como sempre, flor aberta, respirando maresia, entardecendo: estamos sendo, diria ela que faz festa em minha estante de livros.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Diferenças, medos e aceitação



Diz que me ama
Mas o que é que eu fiz
Porque há mais de uma semana
Você está de má vontade
Tudo o que eu digo parece bobagem
Apesar de achar que, em parte
O que você diz é verdade
Mas isso não é nenhum desastre
Pois nunca é tarde pra saber
Que não há nada errado em sermos diferentes
(Só somos diferentes).

[Nando Reis - Sortimento]


* * *

Vou tentar manter o coração aberto pra você,
Apesar dos outros,
Apesar dos medos,
Apesar dos monstros nos meus pesadelos

Vou tentar manter o coração aberto pra você,
Apesar dos trincos,
Apesar dos trancos,
Apesar dos dias repetidos que são tantos.

Eu vou tentar manter o coração aberto pra você.
Apesar da chuva,
Apesar da rua,
Apesar da hora,
Apesar dos pesares, das canções, dos lugares,
Apesar dos meus pensamentos, dos perigos, dos próximos momentos.

Eu de coração aberto pra você,
de coração aberto pra você.

[Aberto - Zélia Duncan e Edu Tedeschi]

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Se eu não consigo te sentir, a distância é ocupada por um grande vácuo. Não sei ficar à mercê do acaso, dos encontros efêmeros e desastrados numa hora que nunca sabemos quando vai ser. Os ritos e a comunhão vão se desgastando por estarem a esmo.

Em tempo: o meu amor ainda caminha sobre frágeis trilhos de papel.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

"Sorry if I hurt you, baby,
Sorry if I did
Sorry if I touched the place
Where your secrets are hid
But you meant more than everything,
And I could not pretend,
I ain't never gonna be the same again..."

(Bob Dylan - Never gonna be the same again)

domingo, 30 de novembro de 2008

A intimidade

Ao som de: Cat Power - Wild is the wind



Gosto quando a intimidade vem sorrateira, sem pedir licença, quando cai como luvas em minhas mãos ressecadas. O clichê faz sala para as palavras, mas eu pouco me importo se é piegas e tão dito pelas bocas mundo afora. Importa-me mais ser chamada pra deitar no teu peito e querer, querer também as pernas encaixadas e nossos pés com linguagem própria. E a gente se olha com timidez e a intimidade já está lá, sem muito tempo a perder, fazendo tanto por nós. Lava a louça antes que a gente se incomode, prepara sobremesas, o banho, economiza pratos, cerimônias, dizeres... A intimidade ri da dor de barriga imprevisível, do beijo quando descompassado, das gafes que nenhum cinéfilo perdoaria, da música brega que insiste em martelar na cabeça. Ri dos nossos olhares, das nossas inquietações, dos monstros que somos nós e não somos e não sabemos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

sexta-feira, 28 de março de 2008

Vez ou outra, eu resolvo entrar pela sua rua, passo em frente à casa dos seus avós e fico me perguntando se você ainda mora por lá ou o que será que faz naquela madrugada em que eu vejo teu carro estacionado e a as luzes em tons lilases por entre as frestas das janelas que sempre acreditei serem do seu quarto. Verá um filme bacana? Fico tentando adivinhar. Algumas vezes coincidiu de eu passar no mesmo horário em que costumávamos nos telefonar e conversar sobre essas dores do existir. Você dizia que nunca ia largar minha mão, lembra? E me sentia imensamente feliz.

Existia um lugar onde eu era sozinha, insuportavelmente sozinha. Um lugar que me dava medo, então eu o comprimia quantas vezes pudesse para escondê-lo num beco escuro. Eu tinha vergonha dele até você chegar e me mostrar como ele não era meu. Que ele existia independente de mim e você fazia parte. Um lugar que se tornava absurdamente mais bonito quando era compartilhado. Pensei ter muita sorte por descobrir a beleza de tudo que eu sentia e pensava sobre as coisas. Era como uma fraternidade secreta e poucos teriam acesso. Assim como Tereza pensou ao encontrar Tomas em “A insustentável leveza do ser” (Milan Kundera). Achei que era única no mundo para você e você era único no mundo para mim, tal qual a flor do pequeno príncipe. Sem perceber, associei você à beleza que acabara de descobrir. Quem assim não teria a mesma importância? Como se tua mão tivesse me resgatado do vazio que me obrigava a sentir vergonha do que eu tinha de mais precioso. E quando você resolveu ir embora, eu tive medo que tudo voltasse a ter a cor cinzenta de antes. No entanto, o que vi já não podia ser tirado de mim. E mais: o caminho estava só começando a ser descoberto. Encontrei pessoas incríveis e percebi que a tal fraternidade é mais habitada do que minha arrogância supunha. Quase cinco anos se passaram. É claro que eu não sou mais a mesma e endureci deveras, mas uma das diferenças mais gritantes é que desde então nunca mais eu tive seus passos acompanhando os meus, ainda que por poucos dias, simplesmente porque você bloqueou o canal e até hoje eu espero que você volte, mesmo que qualquer um diga que eu só fui um brinquedo eficiente para o seu sadismo. E isso dói forte e pinga lentamente como um conta-gotas.