terça-feira, 29 de setembro de 2009

Adélia Prado


O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.

O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.

2 comentários:

Saga disse...

Marize Castro foi p'aquela Flipa (feira de literatura da pipa), vc viu?

Bruno Costa disse...

Água não é mesmo... embora provoque sede e fome...