quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Casa de vó



Quase fim de tarde: hora de tomar uma xícara de café com o bolo de laranja mais gostoso do mundo. Faz silêncio em casa e na vizinhança. Entra a minha luz preferida, a da tardinha, por várias direções – aqui tem muitas portas amplas. Minha avó também cumpre seu ritual: acende um cigarro na varanda enquanto observa seu jardim. Nunca mais me falou do beija-flor, freqüente visitante durante alguns anos que lhe lembrava sua mãe. Ofereço-lhe meu café, quero ficar mais perto, deslizo meus dedos pequenos entre suas mechas de cabelo e cheiro sua pele, nas proximidades do ombro. Um carinho que nem sempre ela encontra espaço em seu denso mundo de angústia – o peso que carrega por ser a grande loba da matilha, as nossas entranhas e salvação. Ainda que seja sempre ímpeto, sua casa transborda paz. E, aqui, faço-me parte da ordem, figura constituída. Sinto o chão e o teto. Durmo ao seu lado, como nos tempos de infância, quando acordava no meio da noite para ver se a grande loba, minha mãe terra, continuava a respirar. Aqui, o dia faz mais sentido que a noite. Sou mais Sol, mais próxima do azul. Corpo em frente à lareira, mil comidinhas, sopa deliciosa com torradas, três cães, quatro gatos. Irmã, avô, tia e a avó que é mãe-terra. Minha base, minha família. A referência que me faz forte.

2 comentários:

Saga disse...

deu vontade de mandar para todas as minhas tias. me identifiquei! (só que na minha avó, são 14 gatos que ficam entre nossas pernas na hora do almoço - embaixo da mesa - imagine!)

Bruno Costa disse...

Não deixa de mostrar pra ela... ela vai adorar... abraço!