domingo, 31 de março de 2013

Sopra um vento que encontra meu peito. Que ar sutil é esse, como uma pluma a se desmanchar vagarosamene? Olho para dentro e sinto meus nervos ainda tensionados ao redor e por entre o coração... Trancas de defesa, de um endurecer para não sentir mais. Puxo o ar pelas narinas até chegar aos pulmões de pouca expansão. Percebo o diafragma em seu posto sentinela, contraído para cima, ajudando-me na maléfica função de não soltar o pesçoco e a cabeça - um controle que já não faz mais sentido algum. Pacientemente, como a negociar com minhas tensões, demoro-me mais na respiração, ampliando a onda que vem e vai. Sim, há uma grande surpresa: eu posso respirar, posso sentir, posso aceitar. E a barulheira de outrora, trazida de fora para dentro só para amortecer, já não me impede de escutar que um presente tão interior chegou. E tudo que eu já esperava se repetir, desmorona. Um desmoronar suave, muito suave. São os espelhos trincados que não restiram à força da verdade. Da verdade que me diz: sim, você tem direito ao ar, à terra, ao fogo e à água. E eu suspiro aliviada, sentindo em mim o abraço do vento nas árvores, que passa a bailar toda a fluidez do universo.

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