domingo, 15 de junho de 2008

Tudo estava indo bem no país das maravilhas quando um velho sentimento resolveu reaparecer. Eu acreditava ter me despedido no dia em que pus um ponto final em forma de tatuagem - uma lua - na minha epiderme. Ali era o limite, decretei exausta. Eu tinha quinze anos quando o conheci. Ele era grande demais para o meu corpo de menina-moça, que nunca havia experimentado respirar o mundo caótico e sedutor nos pulmões. Seu peso me obrigou a andar com os pés afundando e sua aspereza me perfurava o peito sem piedade. E ele nem era por mim. Nem vinha de mim. Espetava a cada um dos vinculados a seu modo. - Lua, me lava a alma e me leva embora*. Porque se minha voz tivesse força igual à imensa dor que sentia, meu grito acordaria a vizinhança inteira**. E quem dera que se tratasse de dor de cotovelo ou de qualquer tipo de luto simbólico. Agora ele volta. O peso extravasa em tensão no ombro, como se tivesse carregado 15 kg nas costas o dia inteiro. Eu sinto mais indignação do que compaixão. Percebo então o grande cansaço que outrora deixou. Constato: não tenho mais tanta carne pra deixar-me conduzir pelo medo e fraqueza. Descarregue nas costas, mas não vai machucar meu peito de novo. O tempo é outro e meus mecanismos de defesa estão afiadíssimos. Doses cavalares de serenidade, por favor!


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*em itálico, um trecho da música "samba a dois" de los hermanos.
** adaptação discreta da música "há tempos" de legião urbana.

3 comentários:

Marcelo Tavares disse...

Serenidade e bom humor. Sem essa dupla a nossa vida seria impraticável. A luta diária uma causa perdida.

Anônimo disse...

bom dia!
gosto muito do sua pagina!
sou adm. do blog “o fogo anda comigo”(thefirewalkswithme.blogspot.com).
o blog tem como ideal um SARAU AMPLIFICADO onde TODOS divulgam suas ideias e, o principal, poemas.
gostaria de ser um parceiro seu!
OBRIGADO!
ofogoandacomigo@yahoo.com.br

Clóvis Struchel disse...

Maravilha a sua narrativa.
Envolvente, próxima, cotidiana.
Muito bom!


Beijos.