sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O rasgo das palavras

Encolhida feito feto, ponho-me a pensar nas referências de mim mesma. Onde tropecei, que nem mesmo vi? Um tanto confusa, lembro-me deste lugar-refúgio de palavras. Um tanto confusa, indago se aqui ainda cabe um pouco de mim, dos meus ais, dos meus suspiros e também da falta de ar. Por que volto, se tanto acreditei que esse caminho, uma vez clareado, jamais voltaria a ser escuro? Não sei, mas algo me diz que se cá estou, coisas perdidas vim buscar. Antes de parir, para morrer e renascer mãe. Vim buscar o rasgo das palavras. O rasgo que dá passagem. O rasgo que me fez crescer, conhecer a dor e transcendê-la. O rasgo que deixei para lá, preenchida pelas cores das flores, pela cachoeira saciando minha sede, as medicinas da floresta cuidando da minha fome, a alegria, tão somente a alegria... Para quê voltar para o rasgo que é escrever? Pois é. Grande mistério. Grande liberdade. Depois da expansão, vem contração. Movimento universal – das minúsculas às grandes partículas. Contraindo, rasgando e significando.
Mais um texto sem desfecho.

2 comentários:

Sono the idle disse...

Que não seja um desfecho em texto.

Você está certa, o caminho não volta a ser escuro. A questão é: foi ele plenamente iluminado?
Quanto mais se preenche, mais se nota o vazio. Quanto mais se expande, mais espaço se cria para contração.

Sei que volto porque sou fascinado pelas palavras e suas incompletudes. Falhas, rasgos que me ajudam a limpar a casa e perceber mais de mim.

Parabéns Bella.

Bella disse...

Bem isso, Igor. Bem isso.