essas chuvas ácidas
bem sei o que traz:
a íris que me finca em solo fértil,
o abraço que me torna pequena,
a boca que se crava em minhas costas
(quando, em carne, somos suor e fome).
__
também sou polarizada,
inflamada e perdida.
trago entulhos:
facas cegas, frases incompletas, murchos girassóis noturnos.
recebe, novamente, a mim.
saliva agridoce, mar alaranjado,
esse desajeitado coração dilatado...
terra e água,
preces para nos sabermos,
como antes,
sagrados.
domingo, 30 de agosto de 2009
sábado, 29 de agosto de 2009
Something There is About You
Something there is about you that moves
with style and grace
I was in a whirlwind,
now I'm in some better place.
Bob Dylan
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Ele, das íris mais prósperas, segurou timidamente a minha mão e depois me tirou para dançar. Fez um carinho discreto em minhas costas. Gentilmente, sem me invadir. Achei sutil e charmoso. Correspondi no mesmo ritmo. De volta para casa, Bob Dylan no som, diminuindo o espaçamento da nossa comunicação cheia de sulcos. Um jeito torto de dizer: estamos muito perto.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Já.
Nem deve ter prestado atenção quando eu contei que tinha varrido para debaixo do tapete. Fiz drama, insinuei desespero. Tão bobo, não vê que o tapete está na minha casa e eu sei muito bem levantá-lo? Boba eu, talvez, que vejo com tanta dificuldade algo tão simples. Costuro minha sombra de volta: ele e aquele outro já me olham diferente e eu não me sinto fraca. Ponto. Quero ficar só. Estou bem aqui, eu com minha lucidez. Nada de cacos sobre a pele. Descanso do rastejar que abomino. Tenho de volta a liberdade do meu trânsito,. Avante em movimentos fluorescentes (quadro de Hendrix a testemunhar íris mais prósperas). Se é só por hoje? Quem se importa?
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Hilda Hilst I
Sonetos que não são
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.
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"O teu passo de ferro
Esmaga o que na noite foi minha vida
E recomeço. E recomeço. ..."
"E que para mim construam
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros."
Aquelas delicadezas, umas rendas, uma casa de seda
Para meus olhos duros."
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Dúvida
“Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor:
onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito:
em que direção se vai?”
(Adélia Prado: O Coração Disparado)
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Da madrugada
É um pecado deixar essas preciosas horas da madrugada para ir dormir... É sabido que eu, tão girassol, fico circulando às tontas durante o dia - só a madrugada me devolve a sanidade. Então repouso, ainda que torta, onde ninguém me alcança. Sozinha, e acolhida pelos longos braços da deusa noite, purifico-me com água quente, sob a luz das minhas velas imaginárias espalhadas pelo quarto, como num ritual muito sagrado. E colho, com minhas mãos em concha, as letras viscerais de mim: doloroso processo para me salvar.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
.
A noite se ampliou
Quando o teu silêncio coube
No meu descompasso.
- - -
Chove e sinto frio.
Livra-me, esta noite,
com teu corpo-cabana,
De molhar minha ferida?
- - -
Tão poesia: a mão dele deslizando três vezes na curva entre meu ombro e pescoço.
Ali - Caio Fernando me disse -, onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao de outra.
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A noite se ampliou
Quando o teu silêncio coube
No meu descompasso.
- - -
Chove e sinto frio.
Livra-me, esta noite,
com teu corpo-cabana,
De molhar minha ferida?
- - -
Tão poesia: a mão dele deslizando três vezes na curva entre meu ombro e pescoço.
Ali - Caio Fernando me disse -, onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao de outra.
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sábado, 8 de agosto de 2009
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
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