Sentou-se bem de frente a mim, naquele colchão na varanda da casa da lagoa. Trouxe o violão e me deu o primeiro sinal da sintonia inata, mesmo sem trocar mais do que cinco palavras - a discrição. Ainda sem nem saber o seu nome, num impulso não censurado, dias depois, foi ele que eu quis tirar pra dançar e a linguagem corporal foi compreendida na medida exata, fincando em solo a ponte que estreitaria a distância, mais um pouco à frente - a surpresa. Depois eu tive medo, "pois o próximo instante era o desconhecido". Lembrei de Clarice. Recuei e voltei em flor semi-aberta, numa mudança de perspectiva ponderada e amadurecida - o discernimento. Uma tranqüilidade passou a fazer morada por essas bandas e a sensação não era de algo novo, esse entusiasmo tantas vezes efêmero. Não, parecia mais que eu havia descoberto um baú de antigüidades, conservadas da corrosão do tempo por uma perfeita redoma. Lá estavam caixinhas de músicas e letras em papéis amarelecidos. Deleitei-me, como se soubesse que aquilo sempre tivera sido meu - os ritos. Tinha cheiro de Clarice de novo e sua felicidade clandestina, ao se divertir num balanço, abraçada no livro de Lobato que contava as Reinações de Narizinho - as coisas atemporais.
2 comentários:
Existem sintonias que se descrevem assim, na música, na dança, nos olhos que compartilham paisagens. Não podemos mesmo nos limitar :)
Pra vc ver como o instante é tudo....como nosso coração humano é mutável....já diz Paulinho Moska: "E seu eu mudo é porque vivo cada segundo..."
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